segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A cidade partida!

Vim direto do aeroporto para o plenário. Estou ainda um pouco tontoporque 12 horas de viagem não é algo simples nem fácil. Mas preparo(...) um relatório de todas as visitas, de todas as reuniões em todasas cidades. Foram 13 cidades diferentes em seis países, em 35 dias.Então, é evidente que tenho bastante trabalho. Em todos os países, asreuniões foram sempre com o Parlamento, com o Governo, na maioria dasvezes com os Ministérios de Relações Exteriores, com a sociedadecivil, com a Academia, com o pensamento de cada país, o que foi muitoimportante. Descobri, por exemplo (...) que na cidade de Colônia, umabela cidade da Alemanha, há um mestrado e uma das teses que estãosendo produzidas lá é sobre as milícias do Rio de Janeiro. A estudanteque está elaborando essa tese, evidentemente veio conversar e disseque a principal fonte de pesquisa era o relatório produzido pelaComissão Parlamentar de Inquérito que investigou as milícias nestaCasa. De alguma forma, são sinais da globalização, também.Em todos os países, explicitando quais eu visitei — Alemanha, Holanda,Espanha, França, Bélgica e Itália — sempre fui muito bem recebido esempre uma grande surpresa para mim, principalmente dos parlamentos decada um deles, do quanto conseguimos aqui, através de uma ComissãoParlamentar de Inquérito, porque não foi fácil enfrentar o crimeorganizado. Esse também é papel do parlamento.Eu quero somar a esta fala de uma prestação de contas inicial quefaço, pois acabei de chegar e sei que devo, é minha obrigação prestarcontas por escrito. Quero dizer o que fui fazer lá, o que foi feito,trazendo todas as reportagens que saíram sobre a nossa visita a esseslugares. Essa deve ser a prática desta Casa.Se nós saímos, se não estávamos aqui trabalhando, se estávamostrabalhando em outro lugar, em outro espaço, a prestação de contas éobrigatória. Deve ser sempre assim: na volta de qualquer viagem, oparlamentar tem que apresentar um relatório para dizer porque estavaausente. E, se não foi a trabalho, então que não receba o seu saláriodaquele mês. É o mínimo de seriedade que a gente exige. Portanto, comocheguei hoje, garanto que até quinta-feira estarei apresentando esserelatório atualizado, mas trago algumas informações imediatas.Quero dizer (...) que no início, até porque eu comecei a visita pelaAlemanha, encontrava uma grande dificuldade pedagógica - e olha que eutenho 19 anos de sala de aula, de magistério, e ainda dou aula, aindaestou em sala de aula - mas tinha uma dificuldade pedagógica muitogrande de fazer com que algumas pessoas, principalmente na Alemanha,compreendessem o fenômeno da milícia. Quando eu dizia, ..., que nãosão paramilitares, porque o ‘efeito Colômbia’, o modelo da Colômbia émuito conhecido na Europa. Só que a nossa milícia é diferente domodelo colombiano: nós não temos paramilitares, eles formam uma forçaque está dentro da Polícia, dentro das forças públicas, não está fora,mas é uma força paralela que não está fora do Estado, que age dentrodo Estado e se utiliza da carteira, se utiliza da arma paraimplementar e organizar o crime.Diante disso, havia alguma dificuldade de compreensão de como épossível acontecer.Quando eu dizia que setores do poder público organizam crime, dominamterritórios e dominam, por exemplo, atividades econômicas, mas nãofazem tráfico de drogas — esta é outra comparação equivocada que fazemcom experiências, por exemplo, do México ou da Colômbia. Não hátráfico de drogas nas milícias, a atividade econômica é outra e é maislucrativa, diga-se de passagem, do que o tráfico. Eu lhes dizia quedominam o transporte alternativo.Aí (...) fazer o povo da Alemanha, por exemplo, entender o quesignifica transporte alternativo, era uma dificuldade muito profunda.E tive de dizer que existe o transporte alternativo porque otransporte público não funciona, porque o transporte público no Rio deJaneiro está entregue nas mãos dos donos de empresa de ônibus, quefinanciam campanhas e depois não são cobrados devidamente das suasobrigações, por isso não permitem, por exemplo, que nosso metrô tenhaalgum nível de dignidade nos serviços oferecidos à população, porqueas relações políticas que pairam sobre o interesse público impedem quenosso transporte coletivo tenha alguma qualidade.Fazer com que essas pessoas entendessem isso, em alguns lugares, eramuito difícil.Fazer com que isso pudesse gerar a idéia de que era o braço econômicodo crime que se alimentava de um Estado que propositalmente nãooferece seus serviços para a população, era mais difícil ainda. Comolhes explicar, por exemplo, que setores do poder público dominam adistribuição de gás em diversas áreas do Rio de Janeiro, em mais de200 áreas do Rio de Janeiro? Como explicar que desviam sinais de TV acabo? E fazem com que isso dê um montante, como, por exemplo, umamilícia investigada por nós e depois comprovada pela investigação daDraco, já tivesse um faturamento de um milhão e meio de euros. E sefizéssemos isso convertido, por mês, vai dar, aproximadamente, cincomilhões de reais.Tudo conseguido, tudo conquistado através das falhas do Estado,através da lacuna deixada pelo Estado na vida dessas pessoas das áreasperiféricas e pobres no Rio de Janeiro.É um Estado que não é para todos; uma cidade que não é para todos, maspara alguns.Essa era uma dificuldade que precisávamos superar na hora deconversarmos sobre o crime organizado dentro do Estado.(...) Não existe crime organizado fora do Estado no mundo inteiro. Ocrime só é organizado quando feito por dentro do Estado. O crime forado Estado existe, mas é um crime desorganizado, é um crimedesarticulado, é um crime que não tem conexões. É um crime feito apartir de um Estado que se apresenta seja qual for, pela sua lacuna noque diz respeito a uma política de direitos, pela lógica da repressão.Mas, evidentemente, crime organizado só existe diante do Estado edentro das máquinas públicas, operado por agente da máquina pública.Não é possível o crime ser organizado fora do Estado. Mesmo esses que,aparentemente, surgem de áreas onde supostamente não temos o Estado, oque não é bem verdade. Nós temos o Estado presente nas favelas,através do braço de controle da Polícia. Nós não temos o Estadopresente na garantia dos direitos, com escola de qualidade, com saúdepública de qualidade, com transporte, com política de empregos. Issonós não temos garantido, mas temos o Estado presente na lógica docontrole, na lógica de guetificação, na criminalização da pobreza.(...) uma provocação propositiva: eu não considero que falte políticade segurança para o Estado. Essa é a política de segurança. Não existeausência do Estado, existe um determinado modelo de Estado para essapopulação, e há falhas.A Polícia do Rio de Janeiro cumpre ordens. A Polícia do Rio de Janeiroé absolutamente vinculada e articulada aos interesses políticos. Foicriada assim há duzentos anos. A Polícia do Rio de Janeiro foi criadapela Família Real quando chegou ao Rio de Janeiro para proteger arealeza dos escravos, dos pobres e dos negros que circulavam pelocentro do Rio.A Polícia continua, numa perspectiva histórica, com uma função muitosemelhante a de proteger a casa grande dos riscos da senzala. É ummodelo de guetificação e de controle da população pobre. Não é umafalha do Estado. Este é o Estado. Não é uma ausência de política. Estaé a política do controle através, única e exclusivamente, darepressão, onde o controle é mais absoluto e moderno, com ocupaçõespoliciais.Vamos viver um momento importante no Rio de Janeiro, que é a chegadada Copa do Mundo e das Olimpíadas. Não só das Olimpíadas, mas da Copado Mundo também. É uma grande oportunidade para que possamos virar umadeterminada página no Rio de Janeiro, que é a página da hipocrisia.Para repactuar a ideia de cidade. Para rediscutir o papel que asfavelas têm no Rio de Janeiro. Para romper com a ideia de que a favelaé sempre um debate de Polícia, marcado pelas sucessivas tragédias. Oué um helicóptero matando, ou é um helicóptero sendo derrubado. Quemnão lembra daquela ação, em Senador Camará, do helicóptero fuzilandotodo mundo? O Deputado Paulo Ramos, à época lembrava que qualquer diaum helicóptero seria derrubado, e agora foi derrubado.São marcas de tragédias que provocam nossa hipócrita amnésia. Umatragédia apaga a outra, e vamos nos esquecendo de tudo. Chacinas emais chacinas, como tivemos na década de 90 e continuamos a ter agora.O que foi o Complexo do Alemão? É preciso romper. Não existe históriado Rio de Janeiro sem a história de suas favelas. Mais de um terço dapopulação do Rio de Janeiro vive nas favelas. O risco para o Rio deJaneiro não é o dia em que a favela descer. Ai do Rio de Janeiro, aidas olimpíadas do Rio de Janeiro se um dia a favela não descer! Porquese, um dia inteiro, todos os moradores da favela não saírem de casa, oque funcionará no Rio de Janeiro? Qual serviço vai funcionar no Rio deJaneiro? Nada funcionará, porque continua sendo as mãos e os pés destaCidade. Mas, equivocadamente insistimos em fazer um discurso decriminalização da pobreza e tratando sempre as favelas como caso depolícia. Um procedimento que cria um aspecto do medo, que provoca aintolerância, e V. Exa. sabe muito bem o quanto este debate éimportante, o quanto o medo é estratégico para uma determinadaconcepção de Estado, que quer provocar, num determinado setor a quemnão lhe deu direitos, a perspectiva do medo da construção do inimigopúblico.Este é o momento em que o Rio de Janeiro tem a chance de fazer umdebate, aberto para o mundo, de repactuação da sua concepção decidade. Não podemos perder essa perspectiva e achar que a saída paraisso é um grande muro na Linha Amarela e na Linha Vermelha, porquevamos passar por ali e o problema estará bem distante: do outro ladodo muro.Um dos lugares que visitei oficialmente pelo Parlamento foi aAlemanha. Uma das referências da concepção de cidade, em Berlim, hoje,é a ausência do muro. Berlim é uma das cidades mais importantes doSéculo XX. É só pensarmos o quanto o Século XX foi marcado pela 1ªGuerra, pela 2ª Guerra, pela ascensão do nazifascismo, no períodoentre guerras, pelo pós-guerra e o papel predominante de Berlim emtodos esses debates, pela queda do muro no final da década de 80.Berlim é protagonista durante todo o Século XX. Toda a concepção deBerlim, em pouco tempo, será indiscutivelmente a principal cidadeeuropéia. Todo o conceito que Berlim desenvolve hoje, de cidade, estácalcado como referência simbólica mais importante o rompimento demuros.Nos restos do muro de Berlim que sobraram, que virou lugar devisitação, tem uma frase, que fotografei e vou mandar de presente parao Governador, dizendo: “Muitos são os muros que ainda precisam serderrubados”. Está escrito num pedaço, que ficou em pé, do muro deBerlim, é principalmente aos muros que provocam a invisibilidade de umsetor dessa população, que gera o preconceito, que gera aintolerância, que gera a ideia de que o Rio está em guerra e que asolução para esta guerra é eliminarmos o inimigo. Não é disso queestamos precisando, porque não fizemos outra coisa, na história daRepública do Rio de Janeiro, que não eliminarmos inimigos eproduzirmos inimigos. Foi isso que a ditadura fez com os subversivos,comunistas e todos aqueles que foram ditos “inimigos da pátria”.E agora? Os “inimigos da pátria” são os que sobraram de uma sociedadede mercado. E o nosso Estado continua eliminando esses inimigos, eproduzindo inimigos e trabalhando com a lógica do medo. É isso queprecisamos superar. Este Parlamento tem um papel fundamental como teveno enfrentamento das milícias e continua tendo uma posição fundamentalna cobrança desse Governo de uma política de Segurança Pública, quenão seja calcada na intolerância, no preconceito e na violência. OEstado não pode disputar com o crime quem é mais violento, maisbárbaro, mais brutal. O Estado tem outro papel, e que não é o que seráescrito apenas pela Polícia.(...) de todos os países que visitei, a Itália foi o lugar onde maisfacilmente fomos compreendidos, por razões óbvias. Quando começamos afalar do funcionamento das milícias, na metade da frase, qualquer um,da imprensa ao governo italiano, diziam: isso é máfia. Não precisacontinuar falando, isso é máfia, todas as características da máfia.Esta Casa deu início ao enfrentamento de uma máfia, porque chamamos demilícia equivocadamente, foi o nome dado pela imprensa e que não maisvamos tirar. Mas se trata de máfia. O que fizemos foi iniciar umprocesso de enfrentamento, que está longe de ser o final. As milíciasse organizam para retomarem ano que vem, o espaço perdido na batalhaque travamos aqui dentro. Nós temos responsabilidade pelo que jáiniciamos.Hoje, esse é um assunto discutido em boa parte do mundo. E boa partedo mundo tem o olhar sobre o Rio de Janeiro. E esse olhar para o Riode Janeiro não pode ser apenas, (...), o de um bom lugar para os JogosOlímpicos. Aqui tem que ser um bom lugar para se viver. É isso que agente espera.

Marcelo Freixo

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Que cidade queremos?

Na última sexta-feira, dia 25, Sérgio Ferreira Pinto Junior manteve Ana Cristina Garrido como sua refém em uma esquina do bairro de Vila Isabel, na cidade do Rio de Janeiro. Sérgio tomou Ana Cristina como refém após tentar roubar um carro na mesma rua onde, por quarenta minutos e tendo uma granada nas mãos, a manteve rendida. O final trágico da curta história que envolveu Sérgio, Ana Cristina e mais 50 policiais militares é conhecido por todos. Um atirador de elite da PM disparou contra o assaltante um tiro certeiro, atingindo-o na cabeça e libertando imediatamente a refém.A imagem de Sérgio sendo atingido na cabeça foi amplamente reproduzida na televisão, em jornais impressos e, claro, na internet. Foi noticiado ainda que, após o disparo e a libertação de Ana Cristina, as pessoas que acompanhavam as negociações na rua aplaudiram o desfecho da história. A operação foi considerada um exemplo de sucesso pelos cidadãos que ali estavam, sem dúvida, aliviados com a libertação da refém. Mas também pelo governador do Estado, que no dia seguinte exaltou o comando da polícia carioca, o secretário de segurança pública e definiu a ação como “a antítese do 174”, referindo-se ao sequestro do ônibus da linha 174 que ocorreu há 9 anos. Na ocasião, o final foi bem diferente, uma das reféns morreu, assim como o sequestrador. Para o governador, a antítese daquele desfecho, ou seja, o contrário da tragédia toma forma na história de Sérgio e Ana Cristina, onde tudo acaba com um tiro na cabeça do assaltante. Não cabe aqui julgar se a ação da polícia no dia 25 foi correta ou não, este não seria o espaço para uma avaliação como essa. No entanto, os fatos que ocorreram em Vila Isabel podem servir para que os cidadãos cariocas se questionem sobre qual é a cidade que desejam e como essa cidade pode ser construída. A cidade que queremos é a cidade que aplaude a morte de um jovem de 24 anos, sem pensar na dor da família e sem saber quem era esse jovem? A cidade que desejamos vai ser construída com atiradores de elite em cada janela e com uma polícia que tem a letalidade como indicador de eficiência? Ou ainda, queremos passar os nossos dias assistindo à trágica cena que certamente não sairá de nossas mentes do boné que cai atrasado por inércia após um disparo que atinge a cabeça de um cidadão? Ou o que desejamos é nem lembrar que Sérgio era um cidadão? Se as respostas a essas questões forem afirmativas, parece que estamos no caminho certo e o desfecho do assalto de Vila Isabel é ilustrativo.No entanto, estes, certamente, não são os desejos dos cidadãos cariocas. Não é difícil constatar como são muitos aqueles que acreditam que a vida humana é mais importante que o combate ao crime. A morte de Sérgio e os fatos que a ela se sucederam demonstram que a luta pela valorização da vida e por uma política de segurança cidadã são mais do que atuais. Pois não há sociedade pacificada onde segurança pública se faz com base na letalidade. Do contrário, acabamos por perder sempre, para usar da infeliz metáfora do coronel Fernando Príncipe, comandante do batalhão da PM da Tijuca que, ao final da operação, questionado sobre o sucesso da ação da PM, afirmou que felizmente o desfecho do assalto em Vila Isabel foi diferente do ocorrido no ônibus 174, sequestro no qual ele também estava presente. “O policial errou o tiro. (...) Sandro acabou atirando e matando a refém. O Brasil não perdeu uma Copa do Mundo porque o Zico chutou um pênalti para fora? O policial atirou e errou. Perdemos”, afirmou ele. O que parece, no entanto, é que estamos perdendo seguidamente. Perdemos vidas. Perdemos a chance de fazer desta cidade um lugar de justiça e utopias.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Bancos: Quem são os ladrões? Os que os assaltam ou os que os fundam?


A notícia é de 24 de julho. Relatório da ONU tornava público um dado estarrecedor. Por conta da intervenção dos governos das principais potências capitalistas, visando cobrir os rombos que o sistema financeiro mundial gerara por sua própria ação criminosa na busca insaciável do lucro especulativo, os banqueiros de todo o mundo teriam recebido, em um ano, quase vinte vezes mais do que os países pobres nos últimos 50 anos. Isso mesmo; US$ 18 trilhões originados dos tributos dos cidadãos foram desviados para o bolso da grande agiotagem capitalista, em apenas um ano. Enquanto aos países pobres, espoliados em suas riquezas naturais; rapinados por juros extorsivos provenientes de dívidas ilegalmente produzidas; expropriados de seus parcos parques de empresas públicas estratégicas por conta da década da privatização "modernizadora" imposta pelo Consenso de Washington, eram destinados míseros US$ 2 trilhões, ao longo dos últimos 50 anos. Quantia, certamente muito inferior ao que lhes foi surrupiado com a anuência de "elites" políticas e econômicas, subalternas e corrompidas.
Pois bem; mal o escandaloso paradoxo começava a esfriar nas manchetes, outra pérola do caráter essencialmente predatório do capitalismo vem a público. Ao longo da crise que teria justificado a intervenção estatal promotora da transferência da montanha de recursos públicos para as mãos da bandidagem financeira, os principais porta-vozes do "mercado" globalizado - o New York Times e o Wall Street Journal - anunciam em manchete na abertura de agosto que os grandes bancos pagaram bônus de bilhões de dólares a corretores e banqueiros, em meio à crise de Wall Street. Ou seja, enquanto mamavam nas tetas de seus Tesouros, para compensar o que teriam perdido nas especulações criminosas a que se entregaram, essas verdadeiras entidades do crime organizado premiaram cerca de cinco mil executivos com comissões mínimas de US$ 1 milhão, segundo manchetes do NYT.
O WS Journal chega a detalhes na denúncia da bandalheira organizada por nove das maiores entre elas; todas bem conhecidas nossas, pela deferência e respeito com que os governos FHC e Lula, acompanhados dos colunistas chapas-brancas dos principais jornalões de nossas plagas, sempre as trataram. Para não cansar nossos leitores com cifras em excesso, vamos reproduzir os dados sobre apenas três mais expressivas.
Começamos pelo mais "modesto", o Citigroup: 124 de seus executivos receberam mais de US$ 3 milhões. 176 receberam mais de US$ 2 milhões e 738 "infelizes" se viram limitados a US$ 1 milhão. Vem depois o JP Morgan Chase. 200 receberam mais de US$ 3 milhões e 1626 receberam entre US$ 1 e 3 milhões. Por fim, apenas para citar os três mais, vem o indefectível dos noticiários diários, o Goldman Sachs. Nele, 212 receberam mais de US$ 3 milhões; 189 receberam mais de US$ 2 milhões e 428 "prejudicados" tiveram que se contentar com parcos US$ 1 milhão, por um ano de "assassinato financeiro".
É bom que isto tenha vindo a público, para que se compreenda o quanto de absolutamente condenável existiu nas medidas capitaneadas pelos governos Obama e Gordon Brown na "superação da crise". O quanto terá sido contrabandeado para os bolsos dos banqueiros mais representativos do sistema a partir do que foi roubado das necessidades de saúde, educação, transportes e infra-estrutura públicas em todo o mundo. É bom que isto tenha vindo a público, para comprovar quão abastardado está o governo Lula, a partir do ôba-ôba que produziu por conta dos US$ 10 bilhões que o Brasil teria "emprestado" ao famigerado FMI.
02/08/2009
Milton Temer é jornalista e presidente da Fundação Lauro Campos

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O Neo Pelego



No instrumental dos peões, pelego é um pano grosso e dobrado, ou uma pele de carneiro curtida, mas ainda com a lã, que se coloca em cima do arreio. O cavaleiro monta sobre o pelego antes de montar sobre o cavalo. Conforme o mestre Aurélio, pelego é: a pele do carneiro com a lã; pele usada nos arreios à maneira de xairel; indivíduo subserviente, capacho. É sobre essa última definição que quero comentar.
O termo pelego foi popularizado durante o governo de Getúlio Vargas, nos anos 1930. Imitando a Carta Del Lavoro, do fascista italiano Benito Mussolini, Vargas decretou a Lei de Sindicalização em 1931, submetendo os estatutos dos sindicatos ao Ministério do Trabalho. Pelego era então o líder sindical de confiança do governo que garantia o atrelamento da entidade ao Estado. Décadas depois, o termo voltou à tona com a ditadura militar. Pelego passou a ser o dirigente sindical apoiado pelos militares, sendo o representante máximo do chamado sindicalismo marrom. A palavra, que antigamente designava a pele ou o pano que amaciava o contato entre o cavaleiro e a sela, virou sinônimo de traidor dos trabalhadores e aliado do governo e dos patrões. Logo, quando se chamado de pelego, significava que a pessoa era subserviente/servil/dominada por outra, ou seja, capacho, puxa-saco, bajulador.
Mas como se pode definir esse trabalhador que se acovarda, que aceita tudo o que o patrão e o governo querem, sem questionar? Pelego é trabalhador que se deixa montar pelo patrão e/ou pelo governo; é o que não consegue reagir frente à humilhação; é quem não luta por seus direitos, por medo das conseqüências; é o pusilânime que se esconde atrás de desculpas esfarrapadas para justificar a própria covardia; o que não tem coragem de lutar, o(a) COVARDE, enfim, o que se esconde atrás daqueles que lutam, aproveitando da peleja alheia como um parasita. Pelego é aquele trabalhador que não sabe o significado da palavra solidariedade, o egoísta que não consegue ver nada além de suas próprias e momentâneas necessidades; é aquele(a) que, terminada a greve, não consegue olhar nos olhos de seus companheiros, porque se sente uma sub-pessoa, uma não-gente, pois lhe falta uma parte essencial a todo ser humano que se preze: o brio, a coragem, o amor próprio, a nobreza de caráter, enfim.
Em tempos mais recentes, com a eleição do governo Lula, presidente originário do movimento sindical, os movimentos sociais foram cooptados e trazidos para dentro do aparelho do Estado, e lá eles se neutralizaram, se anestesiaram, se despolitizaram. O "oficialismo" tirou qualquer possibilidade de crítica e de reivindicação política. Os sindicalistas, militantes tornaram-se assim, em muitos casos, funcionários do governo. E agora, quem arbitra e decide tudo é o presidente. De fato, esses movimentos, os trabalhadores e muitos sindicatos confundiram a necessária postura de autonomia que deveriam manter em defesa dos direitos dos trabalhadores, e não souberam lidar com esta realidade. Tornaram-se parceiros, associados do governo e dos patrões, chamados agora de neo pelegos. Todos irmanados no mesmo interesse, como se fosse possível apagar, negar as classes sociais. Como se não existisse mais o capital e o trabalho. Existe maior embuste? Sem deixar de mencionar que tiveram mais recentemente, aprovado o imposto sindical, e que recebem recursos financeiros de vários Ministérios e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Só a militância crítica há de nos livrar da sina de ser neo pelego. Afinal, a gente pode até morrer teso, mas nunca perdendo a pose. Tudo pode ser tirado, mas não se pode tirar a coragem de lutar de uma pessoa decidida. Recuso-me a sair da militância política pela construção de uma sociedade justa, solidária, que leve em conta a humanidade dos homens e mulheres em qualquer parte do mundo. Não é esta a grande e universal luta dos trabalhadores?
Ser neo pelego? Nenhum trabalhador ou trabalhadora jamais deveria passar por essa infâmia.


Heitor Scalambrini Costa é professor da Universidade Federal de Pernambuco

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Belford Roxo entra na era do G

Belford Roxo um município situado na Baixada Fluminense, Região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro entra na era do G .uma letra que nos dias atuais vem sendo motivo de discussões em todo mundo principalmente no Brasil,esta letra e a inicial da palavra grupo,que por sua vez quer dizer reunião, agrupamento,lugar de destaque ou seja muitas destes conceitos.por exemplo um dos Grupos mais falados nos últimos dias foi o G-20,que significa a reunião dos 20 países mais desenvolvidos do mundo,que discutem entre seus chefes de Estados os caminhos para o final da crise financeira,e econômica mundial,e não menos importante temos o mais conhecido Grupo do mundo creio eu que e o G-8 que e formado por oito potencias mundiais tanto econômicas quanto bélicas.
No Brasil temos um grupo que e muito almejado, um pouco menor que os anteriores ele e composto por apenas quatro, mas não estamos falando aqui de estados, municípios ou regiões,mas sim sobre o Futebol este e muito conhecido como G-4,que são as melhores equipes colocadas do campeonato Brasileiro, que Dara o direito de jogar a copa libertadores do próximo ano. Muito se fala em G-4 por aqui entra na zona sai da zona de classificação. Mas não e desta zona que queremos falar, ou melhor, não comentaremos sobre futebol mais sim sobre Belford Roxo como começamos escrevendo esta matéria que o mesmo entrou na era do G,mais será que o tal do 3-G que a maioria das operadoras de telefonia celular esta utilizando para conectar –se a internet ou será uma nova tecnologia,outros já acham que podem ser uma nova gripe, ou pior um novo vírus infecto contagioso.
Não e nada disso o G por aqui tem o nome de G-13 ai você pode estar se perguntando deve ser porque o Partido dos Trabalhadores ganhou as eleições neste município, ou este grupo deve ser devoto de São Jorge, nada disso também, este e formado por um grupo de 13 vereadores desta cidade, até ai tudo normal seria um grupo com ideologias ou identificação uns com os outros, mais vai alem disso e um grupo que fala em união, em mudança, em combater a corrupção, limpeza no legislativo e por ai vai,seria muito bom se isso fosse verdade,pois e para isso que foram eleitos pelo povo.
Entretanto não foi isso que eu vi em uma seção da casa do legislativo daquele município, que diga de passagem tem outros seis vereadores, mas estes não querem ser intitulados como grupo dos seis. Quando eu falo que eu não consegui ver na pratica todo este discurso, porque muitos dos representantes deste tal grupo subirão ao plenário da câmara municipal de Belford Roxo para votar um projeto sobre reajuste salarial dos servidores municipais, e tomaram a palavra. Não quero aqui fazer nenhum juízo de valor, sei que na política você não precisa ser letrado para exercer, mas ali se viu um despreparo muito grande, vou citar alguns discursos de vereadores que falaram assim. ”nós somos a maioria no caso um integrante do grupo dos trezes, então a maioria não se discute se vota”. Outro foi quando o vereador Taiano disse “o presidente desta casa por ter a maioria ao seu lado muda o regimento quando ele quiser”.
Mais sem sombra de duvidas a fato que mais chamou a atenção naquele plenário foram os discursos do vereador Marcinho Bombeiro que nem e bom colocar aqui pois temos muito respeito ao nosso leitor,coisa que ele não pareceu ter com seu eleitor nem com seus companheiros de câmara,utilizando palavras chulas, ou ate ameaçando vereadores que tinham opinião contraria a dele,como por exemplo,”eu não tenho medo de ninguém se vierem vão ganhar chumbo grosso “,ou “se colocarem faixas na cidade contra o grupo dos trezes eu faço questão de ficar de plantão de madrugada e passar com meu carro lambendo eles” no caso ele ameaça em atropelar qualquer pessoa que fizer manifestação contraria a ele ou ao seu grupo.
Gostaríamos de estar aqui falando em debates na câmara de vereadores mais qualificados ou com um grau de respeito maior a população desta cidade,que o desenvolvimento do município não seja impedido por interesses pessoais ou por desqualificação de nossos representantes,veremos nos próximos dias se esse grupo continua mantendo este discurso,que no caso pra muitos já esta sendo visto como um falso moralismo.
Rafael Andrade

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Hondurenhos convocam greve geral contra o golpe



As forças populares de Honduras convocaram uma greve geral com início nesta segunda-feira (29), em apoio ao presidente constitucional da república, Manuel Zelaya. Neste domingo Zelaya foi vítima de um golpe militar. Tropas do exército entraram na residência presidencial, atirando, sequestraram Zelaya e o conduziram a força para a Costa Rica. À tarde, o Parlamento, sem a presença dos deputados legalistas, depôs Zelaya e empossou em seu lugar o presidente do Legislativo, Roberto Micheletti.

O presidente da federação Unitária de Trabalhadores de Honduras, Juan Carlos Barahona, disse à Agência Bolivariana de Notícias, em entrevista por telefone, que ''o povo vai manter a resistência'', concentrando-se diante da sede do governo e exigindo a volta do presidente eleito pelo povo em 2005. ''Também nos outros departamentos do país o povo está nas ruas, mobilizado'', disse Barahona.

Os militares golpistas ameaçaram impor um toque de recolher em Tegucigalpa, mas Barahona disse que ele não será obedecido. ''A decisão que temos é de continuar nas ruas. Ninguém irá para casa nem abandonará essa luta'', afirmou. ''Vamos desafiar esse toque de recolher dos golpistas e militares gorilas'', agregou. O termo ''gorila'', usado na América Latina do século passado para designar militares truculentos e golpistas, voltou subitamente à atualidade depois do golpe.

''Pela primeira vez, dignidade''
A representante do Sindicato dos Trabalhadores no Registro de Pessoas, Maritza Somoza, informou que a iniciativa da greve geral é apoiada por todos os trabalhadores, pelas confederações de organizações sindicais de Honduras. A sindicalista salientou que o movimento sindical hondurenho tem uma profunda motivação para apoiar o presidente.

Argumentou que o governo de Zelaya foi o único que deu dignidade aos trabalhadores. ''É a primeira vez que um presidente nos dá dignidade'', disse Maritza. Ela observou que, em resposta a essa dignidade, a bandeira do povo hondurenho será agora a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. ''A bandeira do povo hondurenho já não é a consulta, da qual participávamos de maneira simbólica, mas agora vai será a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. Agora o que queremos é um governo que esteja diretamente nas mãos do povo'', disse a líder sindical.

Ela descreveu esse processo como ''o despertar do povo hondurenho''. ''Este povo já foi apático, nunca tínhamos visto que as pessoas respondessem como agora''. Maritza descreveu que, enquanto os trabalhadores apóiam o presidente Zelaya, a burguesia foge do país, tirando de Honduras os seus filhos e interesses económicos. Disse que o governo constitucional perdoou uma dívida de mais de 8,7 milhões de lempiras (moeda de Honduras) de várias empresas privadas, mas a burguesia continua a hostilizá-lo.

Deputado vê 37 cidades mobilizadas
O deputado Marvin Ponce, do partido Unificação Democrática, que apóia Zelaya, avaliou que existem 50 mil pessoas em 37 cidades dispostas a resgatar o mandato presidencial truncado pelo golpe. Para Ponce, a mobilização acontecerá mesmo que haja repressão, pois a única saída para a crise é o retorno do presidente, o fim do ''governo usurpador'' e o julgamento dos deputados que estão apoiando o golpe.

O deputado Tomas Andino Mencias, do mesmo partido, esclareceu que ele e seus companheiros não participaram da sessão do Congresso que entregou o poder a Micheletti. Segundo Mencias, os parlamentares legalistas estão sendo presos.

Oito ministros também teriam sido presos, entre eles Patricia Rodas, ministra de Relações Exteriores, que fez um chamamento à resistência popular antes de ser detida. Patricia foi presa por militares encapuzados e armados, na presença dos embaixadores da Venezuela, de Cuba e da Nicarágua, que a visitavam para hipotecar-lhe apoio.

Condenação mundial
Enquanto Honduras prepara a greve geral, a reação mundial ao golpe deste domingo prenuncia um forte isolamento das forças que sequestraram e depuseram Zelaya. No entanto, Barahona condenou duramente o comportamento da mídia mercantil de Honduras.

''Se a comunidade internacional está nos apoiando, é graças aos meios de comunicação de países irmãos, porque aqui em Honduras toda a mídia está com os golpistas, exceto uma única emissora'', explicou.

A OEA (Organização dos Estados Americanos) convocou uma reunião de emergência na sua sede em Washington, para discutir a crise hondurenha. O secretário-geral da Organização, José Miguel Insulza (chileno), pronunciou-se com clareza:

''Estamos evidenciando uma ruptura da ordem constitucional, que só pode ser catalogada como um golpe de Estado'', afirmou Insulza. Ele informou que estava em contato telefônico com o presidente derrubado, que se encontra em San José da Costa Rica. E propôs que a OEA o envie a Honduras, para realizar gestões ''para reconstituir a institucionalidade e a democracia''.

Texto: Fonte: Vermelho / Postado em 28/06/2009 ás 21:04

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O vício mortal do corporativismo

deputado Edmar Moreira (DEM-MG), recém eleito e recém deposto corregedor da Câmara Federal, encastelou-se numa posição bem vulnerável: propôs o fim dos julgamentos de parlamentares no Conselho de Ética da Casa, pois ali há, segundo ele, o "vício insanável da amizade", o "ambiente de natural fraternidade". O corregedor, que queria abrir mão de corrigir, partiu de uma premissa verdadeira - o "espírito de corpo", que, aliás, não é propriamente amizade, muito menos fraternidade - para chegar a uma conclusão falsa, segundo a qual o Legislativo no Brasil estaria condenado a sempre se autoproteger, a tornar-se - as expressões são minhas - uma "confraria de negócios", uma "pizzaria de luxo".A solução seria, de acordo com ele, remeter qualquer denúncia para o Poder Judiciário. Vale dizer, para as gavetas já entulhadas pela proverbial e, espera-se, não "insanável" lentidão dos processos, sobretudo os que atingem pessoas com poder e prestígio, para as quais a Justiça costuma tardar e falhar. Acontece que o Legislativo é, ao menos em tese, como reza a Constituição, um poder independente, que tem suas regras próprias e, no caso da Câmara dos Deputados, um Código de Ética e Decoro Parlamentar, em vigor desde 2001. Para além das normas penais, que definem crimes e sua punição e dizem respeito a todos os brasileiros, sem exceção ou foro especial, aqueles que recebem mandatos de representação devem obedecer a regras específicas, sempre pautadas pelo interesse público, pela alta responsabilidade coletiva que têm. Em essência, o que se exige dos parlamentares, servidores públicos exemplares e temporários, e que não consta, por óbvio, do Código Penal, é que, no exercício das suas funções eletivas, não abusem de suas prerrogativas, não recebam vantagens indevidas, em benefício próprio ou de outrem, não façam acordos para facilitar a posse de suplentes, não fraudem o andamento dos trabalhos legislativos para alterar deliberações nem prestem informações falsas (art. 4º do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados). Quem tem as melhores condições de avaliar a infringência a essas determinações são os próprios parlamentares, em processos não judiciais, estricto sensu, mas "judicialiformes": as representações no Conselho de Ética, além de garantir amplo direito de defesa aos acusados, permitem uma avaliação rigorosa do que foi denunciado, ouvindo-se testemunhas, e suas deliberações são tomadas por voto aberto. O relator dos casos nunca poderá ser do mesmo partido ou do mesmo estado do representado. Com essas precauções, o deplorável caso do mensalão, em 2005, resultou em nada menos que uma dúzia de deputados com pedidos de perda de mandato no Conselho aprovados por seus "colegas" e rejeitados depois em plenário, graças ao manto espúrio do voto secreto, à exceção dos emblemáticos casos de José Dirceu (PT), Roberto Jefferson (PTB) e Pedro Correa (PP). Em outras ocasiões, mais antigas, o Conselho também deliberou pela interrupção de mandatos e suspensão de direitos políticos de deputados com procedimentos eivados de má-fé e improbidade, claramente contrários à transparência republicana, à dignidade da função pública e à vontade popular (art. 3º do Código de Ética). Portanto, está provado que os Conselhos de Ética dos parlamentos podem e devem agir com independência e rigor em relação ao "compadrio" e aos desmandos com o dinheiro público. Se eles são, como o da legislatura atual na Câmara Federal, mais de "estética e decoração", isso se deve à pequena participação cidadã e à declinante pressão por ética na política. Esta desmobilização popular quanto ao controle de seus representantes, estimulada pelos grandes partidos e até por altas autoridades da República, é também alimentada pela descrença galopante na política institucional e por sucessivos casos de absolvição corporativista e recomposição do poder político de notórios farsantes, nesse insosso seriado caricaturado como "a volta dos que não se foram"...Apesar desses fatores de compreensível desencanto, não seria compatível com a dinâmica social e histórica aceitar a corrupção, a impunidade ou a memória curta como regras, ou como parte "insanável" da cultura política nacional. Isto significaria desistir de vez da democracia representativa e de seus instrumentos, como os códigos, conselhos e corregedorias de defesa da ética pública. Esses mecanismos democráticos, porém, só funcionarão com a permanente

autor:Deputado Federal Chico Alencar

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Porque revisitar a História de Nova Iguaçu?
Marize Conceição de Jesus¹A forma de se produzir História vem mudando desde o início do século XX. Vários foram os debates que se seguiram nas academias e muitos foram os historiadores que buscaram uma nova forma de escrever história, que não fosse a história positivista, baseada em fatos e determinada por uma ordem linear e cronológica, a história política dos grandes feitos e dos grandes homens.Da história econômica de Marx à história problema da Escola dos Analles, há muito os historiadores vêm buscando preencher as lacunas deixadas tanto pela História Política, quanto pela História Econômica, procurando dar voz as massas anônimas, pautando-se em uma postura interdisciplinar, que abordem temas ligados a vida cotidiana, produzindo História, preocupados com a pesquisa e com a busca de novas fontes variadas, em especial os relatos orais. Estes, usados como fonte de pesquisa, nos permitem fazer um contraponto com um discurso corrente que não reconhece as versões diferenciadas a respeito de um determinado fato. Com os relatos orais é possível reconstruir as diversas histórias de vida que no seu conjunto permitem olhar para a história oficial a partir de um outro ângulo, de uma nova ótica que efetivamente nos permitirá compreender e problematizar o fato estudado.(...) “preocupando-se com a história dos indivíduos, das comunidades “pequenos enredos construídos a partir de tramas aparentemente banais, envolvendo gente comum.” Neste contexto, Nova Iguaçu e a Baixada Fluminense contam hoje com algumas pesquisas (monografias, dissertações, teses) produzidas nas mais diversas áreas do conhecimento, que de alguma forma mostram não apenas os interesses econômicos e políticos de uma elite agrária e comercial, mais a luta pela sobrevivência de índios, escravos, meeiros, negros, nordestinos, mulheres, forasteiros , que através de seu trabalho, construíram a Nova Iguaçu de hoje.Durante muito tempo, a pesquisa sobre a história de Nova Iguaçu esteve embasada nos chamados ciclos econômicos e nos grandes feitos de seus ilustres moradores: proprietários de terras, a elite econômica e política, endeusados como os grandes benfeitores da região . Textos repletos de ufanismos que buscavam inserir a história local, na história do Brasil (através da relação dos coronéis da região com o Império, e da importância econômica desta para a capital imperial) , análises generalizantes que passavam longe das relações sociais particularizadas que foram se formando e que a partir delas se construiu a sociedade iguaçuana, composta não só de uma elite sócio econômica, mas, principalmente de outros agentes sociais: índios, escravos, negros, nordestinos, mulheres, artistas. Se os primeiros já são alvos de pesquisas, cabe agora, aos pesquisadores: historiadores, geógrafos, sociólogos, entre outros, dar voz a outros agentes sociais. “uma multiplicidade de narradores, testemunhas nunca ouvidas de uma história social, porém, ocultos das fontes “oficiais”de pesquisa...Reinterpretar o passado à luz das memórias individuais e coletivas...de agentes históricos que viveram ou participaram direta ou indiretamente de determinados períodos da história nacional, porém alijados da mesma.” “ No sentido mais geral, uma vez que a experiência de vida das pessoas de todo tipo possa ser utilizada como matéria-prima, a história ganha nova dimensão (...)(...) reconhecendo grupos importantes de pessoas que haviam estado ignoradas, dá-se início a um processo cumulativo de transformações. Amplia-se e enriquece o próprio campo de ação da produção histórica, e, ao mesmo tempo, sua mensagem social se modifica. Para ser claro, a história se torna mais democrática.” Hoje, ainda que nadando contra a maré dos que se postaram como “guardiães da memória da Baixada Fluminense”, alguns pesquisadores vêm se debruçando sobre a história de outros personagens, buscando dar voz aos supostos vencidos, desta forma dando outras versões para os fatos históricos, reconstruindo a história da Baixada e de Nova Iguaçu sob uma nova ótica. Entendemos que é demasiado importante pesquisar mais sobre os povos nativos desta região, e as relações travadas com os mesmos. Falar dos tropeiros, homens livres e pobres que com seu trabalho ajudaram na expansão e integração regional e econômica desta região; pesquisar sobre escravos e negros e de que forma estes sobreviveram nesta região a ponto de torná-la uma das maiores em população negra do país .Nova Iguaçu durante muito tempo foi exaltada como “ cidade perfume” e os grandes produtores de laranjas como os responsáveis por colocar a cidade nos rumos da modernidade . No entanto, pouco se falou nos trabalhadores, sitiantes e meeiros que trabalhavam diretamente na produção de laranja e de como alguns ficaram sem moradia e sustento a partir da crise da citricultura e da expansão dos loteamentos e do crescimento populacional ocasionado por este fator. Falar da população que veio para esta região, na sua maioria nordestinos, operários nas indústrias do Rio de Janeiro, seduzidos pelas facilidades dos loteamentos ou dos financiamentos de casas nos conjuntos habitacionais que vão aos poucos criando uma outra paisagem para Nova Iguaçu, abrindo ruas, criando bairros, se organizando na igreja, em associações de moradores, nos sindicatos e desta forma peculiar vão trazendo melhorias para as comunidades na medida em que o poder público se isenta de suas responsabilidades. Entendemos que a história de Nova Iguaçu está repleta de silêncios, de não ditos que precisam ser elucidados, uma vez que temos uma região complexa, formada pela dualidade de grupos sociais distintos, cujas relações conflituosas não necessariamente estiveram presentes nos escritos históricos a respeito da região, e que nestes, assim como na história do Brasil, prevaleceram a versão daqueles que detinham o poder político-econômico em detrimento dos outros atores sociais que buscaram formas de sobrevivência em meio as dificuldades e rupturas e a necessidade de superar a segregação e a exclusão social lhes impostas. Um dos caminhos trilhados em nossa pesquisa foi o registro da memória dos personagens anônimos que construíram a História de Nova Iguaçu e da Baixada Fluminense. A memória dos moradores, dos atores sociais, descortinam identidades particularizadas e inúmeros conflitos nos quais se assentaram a história desta localidade. Democratizar a história da Baixada Fluminense e de Nova Iguaçu, revisitá-la, fazer uma releitura nos documentos, nas fontes escritas, retirar delas estes agentes que passaram despercebidos a uma primeira leitura. Buscar relatos que possam trazer a tona fatos que nos permitam outra compreensão, outro olhar a respeito da história desta localidade.É a partir desta breve análise que nos propomos pesquisar a história de Nova Iguaçu e deste modo contribuir para o entendimento das múltiplas realidades que formaram a história de nossa cidade.¹- Especialista em História Social do Brasil/Profª da rede pública estadual